Representantes do Sistema Único de Saúde (SUS) realizaram nesta semana uma audiência pública com cerca de 300 moradores das comunidades de Vila Mota e Capelinha, no município de Adrianópolis (Vale do Ribeira), para mostrar como será a avaliação clínica e o acompanhamento da população exposta ao chumbo. As duas comunidades ficam próximas ao local onde funcionou, até 1995, a Mineradora Plumbum.
A partir de um cronograma estabelecido pelo município, os moradores das comunidades irão receber a visita de profissionais de saúde e responder um questionário com 30 perguntas sobre hábitos de vida. "Queremos saber como vivem estas pessoas, do que se alimentam e se têm queixas que podem estar relacionadas com a intoxicação pelo chumbo", explicou o diretor da 2ª Regional de Saúde, José Carlos Abreu. Segundo ele, esta é a primeira vez que se faz um trabalho específico de atendimento a esta população.
Contaminação - Ao encerrar as atividades, em 1995, a Plumbum deixou um passivo ambiental. Segundo Abreu, não existe mais contaminação aguda pelo metal, mas é preciso avaliar a relação entre a exposição ao chumbo e problemas de saúde da população. "Com a avaliação clínica teremos os primeiros dados para nortear as ações a serem realizadas pelas três esferas de governo. Ainda não podemos afirmar se todos os problemas de saúde desta população estão relacionados com a exposição ao chumbo", ressaltou.
No mês passado as equipes de saúde de Adrianópolis foram capacitadas pelo governo estadual para o atendimento à populaçaoo exposta ao metal. "Após a avaliação, as equipes farão um acompanhamento periódico destas pessoas, encaminhando-as para consultas especializadas se for necessário", informou o prefeito de Adrianópolis, João Manoel Pampanini. Segundo ele, a prefeitura pavimentou alguns trechos e está molhando a estrada todos os dias para evitar que a poeira entre nas residências, levando resíduos de chumbo.
Recomendações - A técnica Maria Paula Zaitoni, do Ministério da Saúde, recomendou que, enquanto o levantamento não for concluído, os moradores da região não devem consumir alimentos produzidos nas localidades, especialmente ovos, leite, carnes e hortaliças. "Foram encontrados resíduos de contaminação a partir da antiga sede da mineradora até quatro quilômetros em direção à Vila Mota e cinco quilômetros em direção à Capelinha", explicou.
Durante a audiência pública a Secretaria da Saúde distribuiu material informativo para os moradores da região contaminada. O material também servirá de base para que os agentes comunitários de saúde esclareçam as dúvidas da população.
Mario Oliveira Rosa, 65 anos, Maximiliano Carmo de Jesus, 76 anos, e Bento Taborda Ribas, 66 anos, se aposentaram pela mineradora e vivem na região da Capelinha. Para eles, a audiência pública esclareceu muitas dúvidas e agora estão ansiosos pela visita das equipes de saúde. "Sinto muitas dores e gostaria de saber se estão relacionadas com o trabalho que realizei a minha vida inteira", disse Maximiliano.
Efeitos - O chumbo é absorvido por meio dos alimentos e objetos sujos com pó ou terra contaminada. Entra no organismo pelas vias digestiva e respiratória. A intoxicação crônica por chumbo pode causar hipertensão e insuficiência renal, principalmente em adultos de meia idade e idosos.
Também pode causar fraqueza nos dedos, pulsos ou tornozelos, uma vez que o chumbo se acumula nos ossos. Nas crianças, o excesso de chumbo contribui para alterações de crescimento (peso e altura) e de desenvolvimento (déficit de atenção).
do Bonde
Saúde do Norte do Paraná